José Mourinho: «No United não tive o apoio que o Ten Hag está a ter»

Os meses longe do futebol estão a fazer bem a José Mourinho. Fez as pazes com a vida mais calma, está mais sereno e vê jogos despreocupado. Até a forma como fala com a comunicação social é diferente. Depois da passagem por Vila do Conde a meio da semana, onde falou sobre o Benfica, Villas-Boas, Amorim e a Seleção Nacional, o Special One abriu o coração a uma conversa com o Expresso e o Daily Telegraph, muito focada na sua passagem marcante por Inglaterra. 

O Manchester United continua a ser uma espinha atravessada na garganta. Mourinho esteve dois anos e meio em Old Trafford, mas sente que a a falta de apoio da direção foi determinante para não ter concluído o trabalho. 

«A minha relação com Ed Woodward era boa. Boa do ponto de vista pessoal. Trocamos mensagens ainda hoje. Mas, do ponto de vista profissional, não foi a melhor», confessa José Mourinho, referindo-se ao homem forte do futebol do United. 

«Eu sou quem sou. Sou um homem de futebol. O Ed vem de um contexto diferente e o que o Ten Hag teve na sua passagem pelo Manchester United, eu não tive. Não tive esse nível de apoio. Não tive esse nível de confiança. Por isso, saí triste, porque senti que estava no início do processo.»

No United, Mourinho ganhou uma Liga Europa, uma Taça da Liga e uma Supertaça. Pecúlio pobre para as vozes mais exigentes. O português tem uma visão distinta. 

«Senti que se confiassem em mim e acreditassem na minha experiência, as coisas podiam ter sido diferentes. Ainda estão lá alguns jogadores que eu não queria há cinco ou seis anos. Acho que representam um pouco o que considero não ser o melhor perfil profissional para um clube de uma certa dimensão», lamenta, evitando dar os nomes a esses futebolistas.

«Mas fiz o meu trabalho lá. O tempo acaba sempre por mostrar a verdade. Eu adoraria que o Manchester United tivesse sucesso.»

Essa falta de realismo no United foi comum à encontrada em Roma. O treinador considera desajustadas as ambições da administração dos italianos. Palavras diretas, ao mesmo tempo que indica as intenções futuras.  

«O que é importante para mim é o clube ter objetivos e que eu possa dizer que estou pronto para lutar por eles. Não quero dizer realistas, mas [pelo menos] semi-realistas. Quando fui para a Roma ninguém sonhava com as finais da Liga Europa e conseguimos. Não é possível ir para um clube quase a descer de divisão e o objetivo ser ganhar a Liga dos Campeões. É um bom objetivo, mas não é justo.»

Numa conversa longa, José Mourinho reflete também sobre o jogo e possíveis alterações para o futuro. Por exemplo, será possível ir buscar ao futsal a possibilidade de jogar sem guarda-redes em períodos de risco total? 

«Ter um jogador de campo extra, quando a oposição está a defender em bloco baixo e só faltam dez minutos? Tentemos isso, sim.»

As leis obrigam a que haja sempre um jogador com uma camisola diferente, de guarda-redes, mas as luvas e o posicionamento são completamente adaptáveis ao contexto de jogo. Alô, Rene Higuita?